A desmilitarização das policias militares é um
assunto recorrente, já há alguns anos, em diversos meios acadêmicos e
policiais, por isso mesmo deve ser melhor estudado.
Infelizmente, o conhecimento das pessoas sobre o
tema, na verdade, é muito pequeno e limitado, justamente porque geralmente
repercutem o que “ouviram dizer” de outros, inclusive dos ditos especialistas,
que na maioria das vezes, sem possuir o domínio completo do tema, acabam por
influenciar as pessoas menos avisadas. Essas pessoas acabam concordando com
estes especialistas sem realizar um estudo mais profundo e juntam-se a eles
para afirmar que o modelo de polícia brasileiro dever assim ou “assado”.
Contudo, para chegar a um entendimento mais apurado
sobre a desmilitarização é necessário um estudo mais detido, observando a
história das Polícias Militares brasileiras e atentando para o caráter
meramente retórico de certas afirmações.
É de se notar que as Polícias Militares são umas
das instituições mais antigas do Brasil, sendo a de Minas Gerais fundada no ano
de 1775, a do Rio de Janeiro em 1809, a da Bahia em 1825, a de São Paulo em
1831, a de Santa Catarina em 1835 e aí por diante. É de se notar que quase
todas as PPMM tiveram sua fundação na primeira metade do século XIX, antes do
aparecimento de muitas instituições públicas e particulares.
É possível dizer que as Polícias Militares são as
únicas instituições policiais que participaram de praticamente todos os fatos
históricos da formação nacional, sempre evoluindo com o país e adaptando-se aos
mais diversos regimes, governos e sociedades. Estava presente na época do
Brasil Colônia, atravessou o Império, a República Velha, o Estado Novo, a
Ditadura de Getúlio Vargas, o Governo Militar e a redemocratização pós 88 com o
advento da Constituição dita cidadã.
Dentro das Instituições a discussão sobre a
“desmilitarização” das polícias ostensivas brasileiras sempre gera polêmica e
discussões acaloradas.
Parte dos policiais entende que esta é uma
medida que gerará um afrouxamento perigoso, gerando indisciplina e quebra da
ordem estabelecida(?). Outra parte defende a desmilitarização como um
arejamento do ambiente de trabalho, uma tentativa de aquisição de dignidade e
voz.
Há, também, aqueles que visualizam o que
chamam de “desmilitarização” como a inexistência de regras, fiscalização e
controle. Por fim, ouve-se a sociedade, que por não conviver no cotidiano das
instituições, fala de desmilitarização apenas na perspectiva de quem sente a
opressão bélica praticada por policiais militares nas ruas.
Neste calhamaço de conceitos e
(des)entendimentos, não se vislumbra defesa definida e séria sobre o que viria
a ser a tal desmilitarização. Às vezes, flagra-se dois debatedores tratando de
coisas distintas, buscando “vencer” a discussão sobre problemas diferentes –
consenso impossível de ocorrer. Por mim, de modo geral, defendo polícias
militares com direito à liberdade de expressão e à manifestação sindical,
desvinculação das forças armadas (que possuem vocação e missão distinta das
polícias), extinção de medidas administrativas disciplinares medievais como a
detenção, moralização ética, iniciando pelos desvios percebidos nos escalões
superiores, e intolerância com desrespeitos ao cidadão, notadamente os
ocorridos em vielas de periferias com público de cor e classe social bem
definida.
Antes de iniciar qualquer debate, é preciso
dar um passo atrás e consensualmente definir o objeto da discordância:
desmilitarizar é acabar com o acatamento às regras, é permitir o desrespeito às
ordens funcionais? É, em termos populares, permitir que tudo vire “mangue”? Sem
definir o que seja militarismo nas PM’s sempre haverá quem tenha esta
interpretação propositadamente, visando desqualificar os argumentos legítimos.
Dos elementos acima conclui-se que há
polícias “militares” não só entre as polícias militares. Polícias civis,
guardas municipais e outras instituições também estão “militarizadas” em certos
aspectos. Também é bom atentar que a deferência aos símbolos nacionais, a
utilização de fardas e aspectos estéticos historicamente ensinados pelo
militarismo e copiados por toda empresa de sucesso são positivos – até os
escoteiros sabem aproveitar o valor destes quesitos para a formação dos
indivíduos. Mexer nestes elemento é simples, fácil? Nem um pouco. O cartaz
levantado nas ruas é bem mais pesado do que se imagina.
Fontes:
- http://marlonteza.blogspot.com.br/